Em uma visão mais ampla, da mesma forma que
um empregado não mantém seu emprego com a falência de sua empresa, também uma
empresa terá muitas dificuldades com a falência econômica, social e ambiental
do país em que estiver operando. Tanto empresários, governantes, quanto
administradores estão começando a reconhecer que o desejo de acumulação
infinita e de consumo sem limites exige uma desenfreada exploração de recursos
naturais, os quais são cada vez mais escassos. Também, os altos custos ecológicos,
pela ameaça que representam à população e ao planeta, estão colocando as
empresas devastadoras em uma posição muito delicada. Afinal, os interesses
desse tipo de empresa entram em conflito com os interesses da coletividade. Uma
das questões éticas mais importantes dos dias de hoje é o controle social sobre
a agressão ao meio ambiente. As empresas que estão sensíveis a esta realidade
têm sua sobrevivência reforçada, pois existirá uma procura crescente por
aquelas não apenas voltadas para a produção e lucro, mas que também estejam
preocupadas com a solução de problemas mais amplos como preservação do meio
ambiente e bem estar social e a sustentabilidade.
Percebe-se que, mesmo no campo dos negócios,
aparentemente o menos propício para aplicações éticas, tem surgido uma
necessidade cada vez mais urgente de seu estudo aprofundado e dos impactos
causados. Seguindo esta lógica, onde o próprio capitalismo necessita
redescobrir suas regras, ter padrões éticos significa ter bons negócios e
parceiros em longo prazo, pois o consumidor está cada vez mais atento ao
comportamento das empresas, existindo um certo metabolismo no relacionamento
entre as empresas e as sociedades em que estão inseridas. Códigos de conduta,
regulamentos, responsabilidade social, políticas, contratos e liderança, são
exemplos de como as empresas podem desenvolver sua ética no contato com a
sociedade. Há quem afirme que as organizações de sucesso devem-se afastar de
uma época marcada por contratos e litígios e entrar na era do “aperto de mão”.
As empresas devem estabelecer altíssimos padrões de integridade e depois
aplicá-los sem incertezas. A primeira preocupação ao pesquisar sobre a
importância da ética na formação de recursos humanos é verificar o interesse e
a contemporaneidade do tema. Logo de início, constata-se que os teóricos em
administração de empresas, na tentativa de ampliar as chances de sobrevivência
do atual modelo econômico, estão revendo posturas e adotando práticas mais
éticas na condução de seus negócios e na gestão das empresas. Não se trata de
idealismo ou de nobreza de atitudes. É a própria necessidade de sobrevivência
que leva o atual modelo empresarial e governamental a ser mais ético. A
sociedade e a população em geral, não suportam mais os frequentes escândalos,
desvios de conduta e principalmente a amnésia e inércia dos governantes na
resolução dos problemas criados por eles mesmos.
Os próprios ardorosos defensores da cultura
capitalista perceberam que não se pode levar muito a sério a tese de que a
defesa do interesse individual gera o bem estar da coletividade. Com a difusão
e aceitação generalizada desta tese na sociedade, os indivíduos que trabalham
nas empresas e os governantes começaram também a defender os seus próprios interesses
particulares sem levar em consideração o interesse da coletividade em questão,
a empresa e a sociedade. Com isso, os executivos e governantes passaram a
defender mais os seus interesses particulares do que o dos acionistas e da
população, gerando sérios problemas de corrupção e investimentos duvidosos de
dinheiro das empresas privadas (como exemplo o caso mais recente o escândalo da
Petrobrás). Além disso, quando o espírito da defesa do interesse próprio é o
mais forte numa empresa e no governo é impossível criar o espírito de equipe e
coletividade, um item fundamental para aumentar a produtividade da empresa e o
crescimento do país, tão necessários num mercado a cada dia mais incerto e
competitivo. Basicamente estes dois problemas levaram os executivos, governo e
os teóricos da administração a se debruçarem sobre questões éticas. Perceberam
que a ausência de ética e a simples defesa do interesse próprio põem em perigo
a sobrevivência das empresas, a governabilidade o crescimento do país e,
portanto, dos seus próprios empregos. É o instinto de sobrevivência falando
mais alto que as teorias aprendidas na escola.
O sistema econômico só funciona eficazmente
dentro de regras de condutas firmes. A primeira é a honestidade comum – a
verdade deve ser transmitida como informação essencial aos investidores, ao
público em geral e aos consumidores. É como se a necessidade de sobrevivência
estivesse impondo às empresas e a própria sociedade uma urgente retomada de
atitudes e valores éticos. Afinal, que empresa e governo teriam condições de
sobreviver e prosperar num clima de falência econômica, social e ambiental? A
sociedade justa tem três exigências econômicas estreitamente relacionadas, cada
qual com força independente:
1)
A necessidade de suprir os bens
de consumo e serviços requeridos;
2)
A necessidade de assegurar que
essa produção e seu uso e consumo não exerçam um efeito adverso sobre o atual
bem estar do público em geral;
3)
A necessidade de assegurar que
não afetem adversamente as vidas e o bem estar das gerações futuras.
As duas últimas exigências estão em frequente
conflito com a primeira, conflito esse fortemente manifestado na economia e na
política diária. A referência comum é o efeito sobre o meio ambiente. As
empresas e o governo não podem continuar gerando altos custos ecológicos em
suas operações, pois seus interesses estariam colidindo com os da sociedade,
uma população cada vez mais preocupada e exigente à preservação do meio
ambiente, a transferência de renda e a criação de cidadania. Quando a empresa e
o governo se preocupam com as questões ambientais e bem estar social,
preocupações evidentemente éticas aumentam suas chances de sobrevivência, pois
a sociedade desenvolve uma imagem positiva em relação a esse tipo de
organização. Quando passam a atuar de forma menos predatória e selvagem, todos
saem ganhando, embora muitas vezes as intenções que estão por trás desta atitude
não possam ser consideradas altruístas. É como se, ao aplicarem uma espécie de
“ética do egoísmo” conseguissem, como efeito colateral, atingir de forma
benéfica o conjunto da sociedade. Esse movimento pode ser chamado de
“responsabilidade social” de empresas, governo e organizações.
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